Despedaçou-se em mil bocados,
Olhares afastam-se, fixam horizontes opostos,
E calam-se as vozes de timbres revoltados.
Palavras mudas, sem corpo,
São apertadas entre a mente e a garganta,
Comprimidas, esganadas, sufocadas
E engolidas num sopro de fúria contida (tanta, tanta…).
O ar é expelido com força, irritação e ardor,
E os lábios comprimem-se
Numa fina lâmina cortante –
– Beija-me a boca e sentirás o frio e a dor.
Este silêncio não é nobre, loquaz,
É oprimente, raivoso, injusto,
Nele nada rejubila, nada se compraz,
E, no entanto, é correspondido,
Acompanhado de um olhar fugaz
E expressões de mágoa indelével num rosto fingido.
De novo o ar é expelido com força e razão,
De novo palavras sem corpo são esmagadas
E engolidas como comprimidos de ira,
Não escondendo a emotiva incompreensão
E o profundo desacordo agressivo que ferira.
29 Fevereiro 2008