Friday 29 February 2008

Silêncio

O frágil equilíbrio quebrou-se,

Despedaçou-se em mil bocados,

Olhares afastam-se, fixam horizontes opostos,

E calam-se as vozes de timbres revoltados.


Palavras mudas, sem corpo,

São apertadas entre a mente e a garganta,

Comprimidas, esganadas, sufocadas

E engolidas num sopro de fúria contida (tanta, tanta…).


O ar é expelido com força, irritação e ardor,

E os lábios comprimem-se

Numa fina lâmina cortante –

– Beija-me a boca e sentirás o frio e a dor.


Este silêncio não é nobre, loquaz,

É oprimente, raivoso, injusto,

Nele nada rejubila, nada se compraz,

E, no entanto, é correspondido,

Acompanhado de um olhar fugaz

E expressões de mágoa indelével num rosto fingido.


De novo o ar é expelido com força e razão,

De novo palavras sem corpo são esmagadas

E engolidas como comprimidos de ira,

Não escondendo a emotiva incompreensão

E o profundo desacordo agressivo que ferira.


29 Fevereiro 2008

Thursday 7 February 2008

Um Segredo

Tenho um segredo, que a ti quero revelar, porque me sufoca em cada assalto que faz à minha mente, como uma lembrança constante da fatalidade dos meus e dos teus desejos, roubando toda a minha atenção, toda a minha concentração no mundo, porque no meu segredo só existimos nós, abandonados um ao outro, sós, mas felizes.

Tenho um desejo secreto, que me atira para a penumbra sombria da irrealidade, da velada insatisfação descontente, da lasciva concupiscência ocultada, e, no entanto, quero contar-to, só a ti, quero partilhar contigo este meu universo ilusório de impudicícia e erotismo por mim escondido.

Assim, te abro a minha mente e me exponho a ti, nua, mas não frágil. Assim, te descrevo este segredo, límpido, claro, cintilante, com as mãos trémulas, os olhos brilhantes e a boca húmida, com os pormenores de uma encenadora de sonhos.

Assim, te mostro que…

Desejo a tua aproximação furtiva,

O teu toque brutal,

As tuas mãos na minha pele,

O teu aperto forte, sensual,

O teu beijo bruto, carnal.


Desejo para mim a rendição,

Subjuga-me a ti,

Força-me, sitiada, sem evasão.


Rasga-me a roupa, a vergonha, o pudor,

Encurrala-me contra ti,

Corpo nu, bruto, de terno sabor.


Encerra-me no teu abraço,

Asfixia-me com beijos,

Mostra-me a crueza dos teus desejos,

Sedentos, sem embaraço,

Infinitamente mais bondosos que os meus ensejos.


Possui-me com impiedade,

Esquece a ternura,

Esquece a brandura,

Como se não o fazendo

Me negas a cumplicidade.


7 Fevereiro 2008