Friday, 29 February 2008

Silêncio

O frágil equilíbrio quebrou-se,

Despedaçou-se em mil bocados,

Olhares afastam-se, fixam horizontes opostos,

E calam-se as vozes de timbres revoltados.


Palavras mudas, sem corpo,

São apertadas entre a mente e a garganta,

Comprimidas, esganadas, sufocadas

E engolidas num sopro de fúria contida (tanta, tanta…).


O ar é expelido com força, irritação e ardor,

E os lábios comprimem-se

Numa fina lâmina cortante –

– Beija-me a boca e sentirás o frio e a dor.


Este silêncio não é nobre, loquaz,

É oprimente, raivoso, injusto,

Nele nada rejubila, nada se compraz,

E, no entanto, é correspondido,

Acompanhado de um olhar fugaz

E expressões de mágoa indelével num rosto fingido.


De novo o ar é expelido com força e razão,

De novo palavras sem corpo são esmagadas

E engolidas como comprimidos de ira,

Não escondendo a emotiva incompreensão

E o profundo desacordo agressivo que ferira.


29 Fevereiro 2008

1 comment:

Anonymous said...

Eu adoro os teus poemas e quadros. Tens uma talento muito bonito. Catarina